Quando me deparei com a disciplina de Comunicação Comunitária ainda na academia, não tinha idéia dos caminhos sem volta, que eu começaria a percorrer. O desafio estava em elaborar um projeto de Comunicação Comunitária que solucionasse as deficiências de comunicação dentro de um ambiente comunitário, em busca de algo que viesse surpreender as expectativas neste processo.
Atender as necessidades e anseios dos indivíduos envolvidos – onde estes pudessem ter a oportunidade de serem produtores de informações e não só meros receptores, - faria valer o direito à livre expressão, garantidos pela Constituição. Considerei que ao proporcionar a viabilização deste processo permite-se que os jovens exerçam a cidadania conquistando visibilidade ao saírem da posição de receptores passivos para emissores ativos da comunicação. A base para esse entendimento encontrei em Peruzzo (1998).
Realizar este projeto, com a participação de jovens dos Morros São Benedito e Jaburu, foi um processo complexo, cheio de incertezas, indagações, porém repleto de descobertas. Comecei a repensar nas muitas formas de produção, difusão e recepção de conteúdo - mass media - do qual somos submetidos diariamente (poucos se rebelam) e percebi a falta de participação popular na protagonização do processo.
Essa percepção me levou a um local de desconforto e me fez voltar no ano de 2007 onde tive a oportunidade de conhecer dois jovens moradores do morro São Benedito localizado na cidade de Vitória – ES.
Na ocasião dois jovens chamaram minha atenção ao demonstrarem interesse pelo audiovisual. Recordando a vontade destes jovens, entrei novamente em contato e constatei que o sonho ainda era algo distante. A falta de oportunidade, o desconhecimento da área e das técnicas que envolvem o meio audiovisual, além do difícil acesso aos equipamentos eram os grandes obstáculos que os jovens encontravam para que produzissem seu próprio vídeo.
Foi quando decidi institucionalizar nos laboratórios da Faculdade Estácio de Sá oficinas de fotografia, roteiro, vídeo, e edição de imagens ministradas por mim e por profissionais voluntários. Para isso, eles tiveram acesso aos recursos técnicos de produção de conteúdo e puderam experimentar a mídia conhecendo a linguagem do meio. Assim foi o “pontapé” inicial no que futuramente se transformaria no meu TCC.
Participaram das oficinas cinco jovens do morro São Benedito e dois jovens do morro Jaburu, comunidades localizadas na chamada Poligonal 1. Durante 15 dias eles tiveram acesso aos conhecimentos de produção de conteúdo do audiovisual e dos equipamentos de vídeo.
O idéia deles era elaborar um vídeo documentário. Utilizar esta mídia para mostrar à sociedade civil a realidade em que vivem, segundo o olhar de cada um. Resgatando suas identidades sócio-históricas e cultural. Na visão deles os veículos de comunicação somente dão destaque ao tráfico de drogas, a violência, e neste caso peculiar, a rivalidade entre os morros vizinhos. Deixam de lado ou dão menos importância ao dia a dia das comunidades - o que os jovens chamam de “lado bom”.
Após o término das oficinas grande parte do roteiro de gravação já tinha sido elaborado pelos “novos” protagonistas da informação, o que daria início a última etapa – o processo de produção e gravação do vídeo proposto.
Foi quando mais uma vez a mídia divulgou que a “guerra” de tráfico pela disputa de bocas de fumo na região tinha se intensificado no mês de março deste ano.
http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2009/03/71925-adolescentes+de+quadrilha+de+traficantes+presos+em+vitoria.html
Fato este que inviabilizou temporariamente o início das gravações, pois não seria prudente e tão pouco seguro que os jovens circularem nos bairros tendo em mãos câmeras filmadoras neste período de conflito.
Este obstáculo foi o lamento da inconclusão do vídeo documentário até que a situação se amenizasse. No entanto todo o conhecimento adquirido pelos jovens após as oficinas resultou no vídeo de ficção chamado: “Maicou Diéquison”. Trata-se de um vídeo que traz uma analogia entre a morte do astro Michael Jackson e a morte prematura de muitos Maicons Diéquisons que se perdem por aí. E que hoje enquanto vivos estão à margem da sociedade.
O vídeo com 8 minutos de duração permitiu que minhas incertezas iniciais se transformassem em convicções. Entre elas é que vale a pena sim, dividir o conhecimento e permitir que este extrapole os muros acadêmicos. Minhas indagações foram preenchidas com o sentimento de ter contribuído com o aprendizado e crescimento desses jovens.
Este trabalho percorreu fundamentos teóricos e provocou experiências, mas não seria possível realizá-lo se enquanto jornalista não estivesse presente o sentimento de conscientização ao exercício da cidadania como dever social. As experiências desta prática, ao sair do papel mostram que a comunicação comunitária abre portas para uma nova vertente na área de atuação do jornalista - o agente social da comunicação.
O vídeo foi selecionado para a mostra oficial do 5° Festival de jovens realizadores de audiovisual do Mercosul que será realizado em no Cine metrópolis em Vitória entre os dias 22 e 26 de setembro.
Visite o site : http://imazul.org/festivaljovem5/
Taciana Grotti é jornalista.
http://tacianagrotti.multiply.com/
Veja o vídeo Maicou Diéquison (ES, 8’50”, ficção – Centro de Referência da Juventude)
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