quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Uma tríplice parceria


Este post está no blog do jornalista Carlos Castilho. Achei sensacional o que as medias sociais podem fazer com as empresas de jornalismo e as escolas de jornalismo. O exemplo do NYT é simbólico. Segue o post:

O blog The Local, criado há pouco menos de um ano pelo jornal The New York Times passará a ser editado por estudantes do curso de jornalismo da Universidade Municipal de Nova Iorque (CUNY), em mais um desdobramento de uma experiência qualificada inicialmente como uma revolução na cobertura comunitária em grandes cidades.

Esta é a primeira vez que um jornalão decide apostar na produção descentralizada de notícias locais, talvez o maior calcanhar de Aquiles da indústria de jornais na tentativa de recuperar leitores a partir da revalorização da cobertura comunitária. Os alunos da escola de jornalismo assumem o controle do blog no dia 18/1 (próxima segunda feira).

O The Local, cobre as comunidades de Fort Greene e Clinton Hill, no bairro de Brooklyn, dois tradicionais redutos de artistas e intelectuais, caracterizados por uma forte integração racial e cultural. O blog foi criado em março de 2009 e ficou 10 meses sob o comando de um jornalista destacado pelo Times para criar a coordenar uma rede de jovens residentes no bairro, entre eles alguns estudantes de jornalismo.

Durante este período, o jornal constatou na prática um fenômeno que já havia sido mencionado aqui no Código e que muitos pesquisadores do jornalismo online também estudam há tempos. O custo/benefício da cobertura local ficou alto demais para um jornal convencional diante da multiplicação de blogs informativos locais produzidos por amadores.

A concorrência ficou desigual porque o tempo e o custo para deslocar um repórter e um fotógrafo da redação até um bairro distante onde ocorreu um acidente grave é enorme se comprado à fotografia tirada com uma câmera de celular, por um sujeito que estava na hora certa, no local certo. Se verificarmos que situações como esta se repetem dezenas de vez por dia, dá par entender porque as pessoas deixaram de procurar nos jornais impressos, notícias dos bairros onde moram.

A principal resistência das chefias de redações era a de que os jornais não queriam perder o controle da produção de noticias. Foi isto que alegou um jornal regional brasileiro quando lhe foi apresentada, há dois anos, a proposta de parceria com uma faculdade privada de comunicação social para criar blogs comunitários produzidos por alunos de jornalismo online.

O medo de perder o controle ainda funciona como resistência passiva a uma inovação onde praticamente todos ganham. O jornal porque passa a ter informações locais quase em tempo real, a custo baixo, enquanto os estudantes têm uma oportunidade, não só de praticar jornalismo em condições reais, como principalmente, estabelecer contatos com comunidades, visando a criação de redes sociais.

O envolvimento dos estudantes de jornalismo online com a formação de redes sociais virtuais é o primeiro passo para eles começarem a montar o seu projeto profissional independente, já que está provado que os empregos fixos tendem a diminuir ainda mais na imprensa convencional.

A perda de controle imobiliza os jornalistas profissionais por causa do medo de perder também o monopólio no exercício da atividade informativa. Só que isto já está acontecendo. Não adianta mais resistir a um processo que o The New York Times não inventou e teve apenas o mérito de reconhecer antes de muitos outros jornais.

Na área de Nova Iorque existem vários outros projetos, uns com mais outros com menos sucesso, de jornalismo comunitário baseado em parcerias entre profissionais e amadores. O que faltava a todos eles era a possibilidade de trocar experiências e aprender com os fracassos. A conversa parece que vai começar a acontecer agora, com a entrada das faculdades de jornalismo no processo.

Aí a coisa começa a ficar clara. Os estudantes e professores entrariam com o trabalho de campo na busca, processamento e publicação de notícias comunitárias, bem como na montagem de redes sociais de apoio.

As faculdades promoveriam a sistematização e intercâmbio de experiências entre os vários blogs comunitários; e jornais, como o Times, entrariam com a sua experiência em captação de recursos financeiros. É uma tríplice parceria, que só não é feita aqui no Brasil por cegueira dos donos de jornais e das faculdades de jornalismo.


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