sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Jovens rurais e o protagonismo das ações


“Desenvolver atividades de educomunicação para a divulgação científica que proporcionem aos jovens rurais o protagonismo de ações, que internalizem conceitos, discutam e divulguem junto à comunidade ‘o que a ciência faz’ e ‘o que a sociedade pode fazer’ em relação aos impactos ambientais da atividade agropecuária”.

O projeto visa educar cientificamente, sobre agropecuária e meio ambiente, os alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental “Deigmar Moraes de Souza”, localizada na comunidade Cujubim Grande do Rio Madeira, em Porto Velho, Rondônia.

O trabalho da pesquisadora na comunidade Cujubim Grande começou com o projeto “Comunicação para a gestão de recursos naturais”, da Embrapa, em 2004, que atende pequenos produtores da região.

Ela conta que o projeto foi criado para diminuir a distância entre os pequenos produtores - com seus interesses, necessidades e conhecimentos tradicionais - e os pesquisadores - detentores do conhecimento científico desenvolvido para solucionar problemas na agricultura considerando a preservação ambiental. Dentro desse projeto de extensão rural, a comunicóloga e os pesquisadores perceberam que havia interesses diversos entre os ribeirinhos.

A partir disso, foram montados grupos de estudos destinados a criar uma correspondência entre as tecnologias que a instituição poderia oferecer e a atividade dos produtores.

A necessidade de inclusão social dos jovens através de C&T surgiu pela própria demanda da comunidade e, também, pela percepção da pesquisadora de que a escola, que cedia o espaço para as reuniões entre pesquisadores e associação de produtores, poderia entrar no projeto. O resultado é o envolvimento direto de 360 alunos, do 1º ao 9º ano, e 20 professores da escola, desde o início do ano.

A proposta metodológica, tanto para os jovens quanto para os produtores, tem como princípio a interdisciplinaridade e envolve, primeiramente, uma etapa de sensibilização para as questões ambientais ligadas à comunidade.

Esse trabalho de sensibilização, segundo Oliveira, foi iniciado com músicas que, de um modo geral, contemplassem temáticas ligadas à questão do fortalecimento da identidade do grupo, da riqueza da região em termos de biodiversidade e da compreensão da responsabilidade comum pelo meio ambiente.Posteriormente, foram utilizadas músicas de artistas com origem na cultura amazônica, como “Sabor Açaí”, de Nilson Chaves.

Como exemplo, a pesquisadora conta que a partir dessa música o grupo pesquisou e criou um amplo conjunto de informações e conhecimentos a respeito do açaí, planta muito comum na região, utilizada para a geração de renda por meio da alimentação, da aplicação na construção civil, na tecelagem, etc. Esse é o tipo de trabalho que Oliveira desenvolve com os ribeirinhos: fazer com que eles próprios percebam os elementos do seu cotidiano para, assim, criarem uma identidade de respeito com o meio ambiente que parta de sua própria realidade.

“Quando você vai tratar da questão ambiental há um maniqueísmo muito grande: aquele que derruba, que queima é do mal e o protetor da natureza é do bem.

A gente tem que ver como é a agricultura que eles praticam. A derrubada e a queima é uma prática do pequeno produtor. Então, a pesquisa não pode chegar lá e dizer ‘olha, agora não pode mais derrubar, não pode queimar’.

Ela tem que começar a promover essas mudanças a partir da compreensão da realidade em que eles vivem, em que eles trabalham”, afirma a pesquisadora.

Após a etapa de sensibilização para as questões socioambientais, o passo seguinte é a inclusão dos jovens no universo científico que aproxima a Embrapa de seus familiares através de cursos, oficinas, excursões a campo e estágios para capacitação e educação científica de alunos e professores.

A primeira experiência foi com o plantio do feijão de corda em regime comunitário na várzea do rio Madeira. A Embrapa entra com as variedades resistentes a pragas e doenças e, portanto, menos dependentes da utilização de defensivos agrícolas, desenvolvidas em suas pesquisas na área de biotecnologia.

Os produtores entram com o conhecimento tradicional desse plantio, que é realizado há muitas gerações. A produtividade aumentou significativamente e os ribeirinhos do rio Madeira tornaram-se, inclusive, fornecedores do produto para o Programa Fome Zero.

O trabalho de educomunicação para a divulgação científica dos jovens é realizado por meio de dois grupos distintos. Um deles é o Jovem Pesquisador Científico.

Com o apoio da professora de ciências e dos pesquisadores da Embrapa, eles visitam os laboratórios da instituição, fazem trabalhos de campo e têm contato com metodologias científicas para elaboração de projetos de iniciação científica ligados à produção do feijão de corda.

Enquanto isso, outro grupo, o Jovem Divulgador Científico, tem contato com as metodologias da área de comunicação, sob a coordenação de Oliveira, e é responsável pela divulgação das pesquisas, que se realizará por meio de material impresso, em jornal e mural da escola, da criação de um blog e de videoclipes ambientais educativos. “E eles estão falando em rádio também; isso nem está no projeto, partiu deles”, acrescenta a pesquisadora.

O projeto ainda está em sua fase inicial, mas seus objetivos são bastante ousados. Entre eles, a criação de um “Cantinho da C&T” na biblioteca da escola e a divulgação científica dos projetos em cinco escolas do entorno, na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, pelos jovens educomunicadores.

“O aumento do conhecimento científico e do interesse dos jovens pela C&T é necessário para o desenvolvimento do país”, finaliza Oliveira.



Fonte: http://www.comciencia.br

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