sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Um processo comunitário de produção de uma nova imagem da loucura


A proposta da TV Pinel é enlouquecer - delirar, transformar, reinventar - a mídia televisiva.

Através da metodologia de trabalho participativa da TV comunitária, a concepção e realização de seus programas envolve pacientes, uma equipe profissional, técnicos e funcionários dos diversos setores do Instituto, num trabalho coletivo de produção.

Em muitos aspectos o projeto da TV Pinel revela-se uma experiência inovadora no campo da saúde mental e da comunicação.

Ela diferencia-se de outros projetos por acrescentar, à idéia do trabalho e da capacitação profissional junto a usuários de serviços de saúde mental, o trabalho com a tecnologia da imagem, através de uma metodologia participativa.

Ter como produto um programa de TV, propicia o estabelecimento de mais uma esfera de expressão e participação social, e traz à tona, entre outras questões, a visibilidade e publicização da loucura e de seu tratamento.

A TV Pinel constitui uma iniciativa do Instituto Philippe Pinel, surgida em 1996 através da assessoria e parceria fundamental do CECIP Centro de Criação de Imagem Popular), quando a instituição ainda pertencia ao Ministério da Saúde.

A partir desse momento, inaugura um processo comunitário de produção de uma nova imagem da loucura: uma imagem onde um olhar sem preconceitos poderá perceber pessoas criativas e produtivas, que podem conviver com a família e com a sociedade.

Na TV Pinel, os pacientes, num trabalho de criação coletivo, constróem um discurso televisivo bem humorado sobre sua própria condição. Utilizando a metodologia de TV comunitária, o trabalho envolve usuários, integrantes da equipe da TV e funcionários de outros setores da instituição.

Avanços e perspectivasA TV Pinel tem se mostrado como um importante instrumento de intervenção cultural no contexto da Reforma Psiquiátrica Brasileira.

Nesses quatro anos de existência, a TV Pinel alcançou uma repercussão na mídia nacional e internacional, propiciando a publicização e visibilidade do projeto, que refletiu nos usuários como um reconhecimento público de suas potencialidades.

Desta forma, contribui para que usuários de serviços de saúde mental ocupem um outro lugar na sociedade.

Entendemos que as modificações propostas pela Reforma Psiquiátrica serão potencializadas se as mesmas forem acompanhadas por um processo de desconstrução de mentalidades, de modificação da cultura naquilo que diz respeito às representações sociais da loucura.

Não se trata apenas de produzir novos serviços ou novos dispositivos terapêuticos, mas sim de produzir novas possibilidades de vida (trabalho, profissão, moradia, lazer...) para estes cidadãos em sofrimento psíquico.

Daí a dupla importância de um projeto como a TV Pinel: a de servir de lugar de realização de novas possibilidades de existência para os pacientes e, simultaneamente, de instrumento desmistificador da loucura junto à sociedade - um instrumento de intervenção cultural.

Com a municipalização do Instituto Philippe Pinel a partir de Dezembro de 1999, a extensão do trabalho da TV Pinel à Rede de Atenção Psicossocial e até, mais amplamente, à Rede de Saúde da Cidade do Rio de Janeiro facultará a capacitação de profissionais e usuários da rede pública de saúde na tecnologia e linguagem de TV Comunitária, assim como contribuirá para a construção de uma identidade positiva dos dispositivos de tratamento em saúde mental preconizados pela Secretária de Saúde Mental do Município do Rio de Janeiro.

O ano 2000 marca uma importante mudança ou, melhor dizendo, desdobramento da TV Pinel, que vem a ser o surgimento de um novo parceiro nesse projeto: o Núcleo Imagem na Ação, uma entidade sem fins lucrativos criada pela própria equipe fundadora da TV Pinel, incentivada pelo CECIP, com o objetivo de potencializar a atuação do grupo em projetos de comunicação comunitária articulada à saúde mental, educação e cultura.


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